Quando uma vez no Brasil


Em 1808, quando a corte portuguesa mudou-se para o Brasil, chegando por aqui Dom João VI e uma comitiva de pelo menos 20 mil portugueses fugidos de Napoleão, o que encontrou foi uma colônia de bárbaros. Havia tanta sujeira nas ruas de Salvador que isso daqui parecia uma pocilga. Animais nas ruas, esgoto correndo pelos becos de areia, crianças correndo pelados como bichos. De cada 10 moradores, sete eram negros escravos, maltratados e desnutridos. As pessoas não tinham roupas, móveis, nem ao menos tinham talher. Comiam com a mão ou com facas, quando muito com uma colher de pau.

A corte achou tudo isso um absurdo. Obviamente, o rei de Portugal não achava que a culpa pela situação de abandono da colônia era dele. Afinal, todo político acha que o sujeito é pobre porque quer. Embora alguns sejam por este motivo mesmo, a terra de Vera Cruz não tinha escolas, faculdades nem imprensa. Era um vasto território pouco explorado e dominado por grupos que hoje chamamos de milícias. A igreja estava no centro matando índios e maltratando os negros que não tinham alma. Se quisessem ter religião, teriam de ser a católica, mas em igreja separada da dos brancos.

Em 1943, quando o presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt se encontrou com Getúlio Vargas para assumir o comando do Brasil externamente, ele também estranhou o lugar. Tudo era muito ruralista e arcaico. O mundo já havia aderido à revolução industrial há quase 200 anos e o país pós-colonial era apenas uma grande zona rural com algumas cidades maiores. Propôs mudar o quadro, mas para isso o coronel Getúlio precisava se desvencilhar das amizades que tinha com França e Inglaterra, acabar com os trens e fechar negócio somente com os EUA.

Natal era uma vilazinha de pescadores. Quando se transformou no “Trampolim da Vitória”, ganhou ruas numeradas, passou a receber Coca-Cola, cerveja; ganhou uma zona boêmia, ônibus chamados de “marmitas” e misturou muitas palavras nossas com as deles, construindo um dialeto próprio.

Quando na década de 1950, Juscelino Kubitschek decidiu investir alto na fabricação de carros e implantar o regime fordista nas empresas, estava, definitivamente, instalada a “revolução industrial americana”, a mesma que perdura até hoje. Em 1961 quando Che Guevara veio ao Brasil a convite de Jânio Quadros e João Goulart, achou tudo muito familiar, mas com ar de imperialista. Disse duas ou três coisitas e ajudou a planejar uma revolução. Não deu muito certo. Em 1964, os EUA voltaram aqui para dizer que tudo estava muito comunista, aí foi a hora de tocar o terror e implantar uma ditadura, assim como fez com Argentina e Chile.

Daqui a pouco quando os chineses chegarem, vão achar tudo muito estranho. Vão se agoniar com o índice de violência e ter a mesma sensação que teve o povo de Dom João VI. Vão misturar isso com as impressões de Roosevelt e achar tudo muito atrasado, começando pelo povo que reclama muito e age pouco. Daí, teremos outra transformação e todo mundo vai deixar de comer feijoada para se aventurar no arroz com pauzinhos.


Comentários

Postagens mais visitadas