Política de menino
Um
dos meus sonhos de menino era ver o país alcançando o patamar de primeiro
mundo. Dava mais importância a isso do que a qualquer outra coisa. Foi logo no
início, quando pensava que a juventude poderia mudar o mundo a partir das
minhas análises aprendidas no movimento sindical e compartilhadas entre os
socialistas bucólicos dos meus 13 anos.
Isaac
e eu fazíamos verdadeiras conferências para discutir o futuro do Brasil e as
influências norte-americanas. Eu era o Lula e ele o FHC e, vez ou outra,
entrávamos em conflito. Isailton e Isiane, seus irmãos, nos chamavam de tolos.
Era a opinião pública. Mas quem resolvia as quizilas, era sua avó, dona Joana,
o FMI.
O
tempo passou e acabamos nos afastando geograficamente. Na verdade, quase não
nos falamos mais, como fazem o Lula e o FHC. Mas nossas análises, simplórias ou
infantis, deram resultado. O país mudou como prevíamos. De proletariado
reprimido, cheguei à classe média e alcancei Isaac, como fizeram outros
milhões.
A
TV já não fala tão mal de nós mesmos e nem tão bem dos EUA como antigamente.
Embora ainda exista o complexo, o Nordeste não é mais tão marginalizado e o
sudestino nem parece tão bonito como parecia ser. Possuir TV, Carro e entrar na
faculdade não definem mais o sujeito rico e a eletricidade apagou as lamparinas
do sertão.
Um
operário assumiu o governo e passou para uma mulher. Governadores já foram
presos, deputados cassados e ministros caem como manga madura. Não sei se por
ironia ou para dar uma resposta a mim e a Isaac, de repente, os EUA entraram em
crise, a Europa se prepara para enfrentar uma recessão e o Brasil começou a
emprestar dinheiro ao FMI.
Confesso
que não sei por onde anda Isaac, mas penso nele com regularidade. Mais que
vizinhos, éramos quase irmãos, embora divergentes políticos. Sobrevivemos às
épocas tristes e crescemos com o país que temos. Soube que ele está no serviço
público tentando fazer os homens do futuro. Talvez, não sejamos felizes como
pensávamos que seríamos, mas fico pensando se ele sabe que nossas idéias
mudaram o mundo.
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